quinta-feira, 20 de março de 2008

Cárie dentária e alimentos - qual a relação?

A cárie dentária, devido à sua etiologia multifactorial é de difícil definição, sendo uma das possíveis: uma doença infecciosa, pós eruptiva, transmissível e quando deixada à sua evolução natural conduz a uma destruição progressiva e centrípeta dos tecidos mineralizados do dente.

HISTÓRIA
Quando se pretende investigar a história da cárie dentária ao longo dos tempos, todos os dados indicam que se trata, de certa forma, de uma “doença nova”.
Estudos antropológicos confirmam a ausência relativa de cárie no mundo ocidental, antes do séc. XV, tendo-se verificado que nos últimos 500 anos a incidência e prevalência da cárie dentária aumentaram com a introdução de açúcares na alimentação. O estabelecimento das plantações de açúcar no Novo Mundo no início de 1700 e o subsequente crescimento do consumo de açúcar na Europa no séc. XIX originou uma pandemia da doença.
A cárie dentária é uma doença com alta prevalência que atinge a quase totalidade das pessoas, independentemente da raça, sexo, idade ou condição social. Tratando-se de uma doença ubiquitária, embora com grandes variações geográficas, a cárie dentária influencia desfavoravelmente a saúde geral do indivíduo ao diminuir a função mastigatória, alterar o desenvolvimento e a estética facial, provocar perturbações fonéticas, causar dor e originar complicações infecciosas com repercussões locais e gerais, causa de absentismo, falta de produtividade e até de bem-estar emocional, tendo repercussões sociais e económicas importantes.

ETIOLOGIA
A sua etiologia multifactorial, onde se inclui como factores primários, os relacionados com o agente (flora oral), o ambiente (dieta alimentar) e os factores relacionados com o hospedeiro, sendo indespensáveis a coexistência destes 3 factores para o seu aparecimento. A evolução da cárie dentária pode ainda ser modificado por vários factores secundários tais como sócio-culturais, higiene oral, doenças crónicas, exposição ao flúor, hereditariedade,etc.
Como a cárie dentária é uma doença bacteriana dependente da dieta, o tempo de permanência da cavidade oral, que depende da consistência física do alimento (sólidos com maior potencial cariogénico que os liquídos), adesividade, frequência de ingestão, estando o potencial cariogénico aumentado com número elevado de refeições.
Este tipo de patologia é altamente influenciada pela dieta, sendo o tipo de alimentos presentes na dieta, o tempo que permanecem na cavidade oral e a frequência da ingestão factores relevantes para a determinação do aparecimento de cárie. Relativamente ao tipo de alimentos, os hidratos de carbono (HC) são o tipo de alimentos com maior potencial cariogénico que conduzem à produção de ácidos pelas bactérias da flora oral e consequente desmineralização dos tecidos duros do dente.
Dos vários HC, pode-se referir a lactose, que está presente no leite tem um potencial cariogénico mais baixo, conduz a uma baixa produção de ácidos, tendo ainda o leite constituintes que induzem a remineralização dentária, caseína e cálcio e fosfatos. A sacarose, presente em bolachas, pão, chocolate é um dissacarídeo (glicose e frutose) refinado com elevado potencial cariogénico, uma vez que é um nutriente energético fundamental para as bactérias, sendo o substrato utilizado para a síntese de polímeros da matriz extracelular (placa bacteriana). Este tipo de HC quando associado com o amido (igualmente presente em bolachas e pão, entre outros) torna-se ainda mais cariogénico pelo seu maior poder de adesão às superfícies dentárias, aumentando o seu tempo de permanência na cavidade oral. Em contrapartida, os alimentos que não contêm açúcares refinados têm baixo poder cariogénico, como é o caso de vegetais e alguns frutos.
Desta forma, pode-se verificar que os benefícios de uma alimentação saudável manifesta-se a todos os níveis sendo essencial para uma boa saúde oral.
Por tudo isto é importante adequar o tipo de alimentos presentes na nossa dieta de modo diminuir a elevada prevalência desta patologia da população portuguesa.


DICAS IMPORTANTES
É necessário ter alguns cuidados com as crianças nomeadamente nunca envolver a chupeta com açúcar, nunca colocar açúcar ou mel no leite, nunca deixar a criança com o biberão de leite adoçado durante toda a noite porque durante o sono a criança tem uma menor secreção salivar, menores mecanismos fisiológicos de limpeza activos levando a uma contínua desmineralização da estrutura dentária resultante da produção de ácidos provenientes dos açúcares.

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